A Justiça da Argentina vai investigar o desaparecimento do brasileiro Edmur Péricles Camargo. Ele desapareceu em 16 de junho de 1971 e era perseguido pela ditadura militar brasileira, que durou de 1964 a 1985.
Camargo fez parte da Aliança Libertadora Nacional (ALN), grupo guerrilheiro por Carlos Marighella. Ele também foi um dos prisioneiros trocados pelo ex-embaixador da Suíça, Giovanni Bucher, sequestrado pela organização armada Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), em 1970.
A decisão de investigar o desaparecimento de Camargo ocorreu após denúncia do presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH), Jair Krischke, e do ativista e Prêmio Nobel da Paz argentino, Adolfo Pérez Esquivel.
O militante vivia exilado no Chile. Ele foi clandestinamente em Buenos Aires, em 1971, durante escala de um voo que saiu de Santiago com destino a Montevidéu. Ele foi entregue às autoridades brasileiras no aeroporto argentino.
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O presidente do MJDH explicou à Opera Mundi que Camargo foi transportado por brasileiros até o aeroparque Jorge Newbery (uma base da Força Aérea Argentina) e colocado, no dia seguinte, em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) com destino ao Rio de Janeiro.
“Nós precisamos saber quem eram as autoridades que estavam no comando do aeroparque naquele dia, quem autorizou o ingresso do avião da FAB no espaço aéreo argentino, assim como quem eram os passageiros, o comandante e a tripulação do voo [que ia a Montevidéu]”, disse Krischke.
A denúncia cita Sebastião José Ramos de Castro, general da reserva brasileira, ex-chefe do Serviço Nacional de Informação (SNI), Miguel Cunha Lana, coronel aviador, e Paulo Sérgio Nero, diplomata e ex-chefe do Centro de Informações no Exterior (CIEX), em Buenos Aires.
Os denunciantes também pedem que a Justiça identifique os agentes da ditadura argentina envolvidos no crime.
Elos da ditadura
De acordo com Krischke, a prisão de Camargo comprova que as ditaduras do Brasil e Argentina já se ajudavam mutuamente em 1971 – quatro anos antes da oficialização da Operação Condor, a infame rede de colaboração entre as agências de inteligência das ditaduras do cone sul que perseguia, prendia e exterminava opositores políticos.
“A operação foi batizada em novembro de 1975 em Santiago do Chile, mas a prática já existia e quem a criou foi o Brasil”, diz Krischke.
O ativista lembra que a Condor “foi implementada pelo embaixador Manoel Pio Corrêa Júnior, que era um agente da CIA, a partir da criação do Centro de Informações do Exterior (CIEX), na embaixada do Uruguai, em 1966”.
“Foi ele quem criou esse monstro e o criou dentro do Itamaraty. O CIEX chamava a prática de Plano de Busca no Exterior”, conta Krischke.
Com informações do Opera Mundi
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