Por Domingos Leonelli, para Socialismo Criativo
Não violência em resposta à contrarrevolução bolsonarista. Ao meu ver, Bolsonaro não está preparando um golpe no sentido clássico. Nem mesmo o que se denominaria um “auto-golpe” contra o seu próprio governo. Sua perspectiva é a instalação de uma ditadura civil-militar de caráter teocrática, neoliberal na economia, entreguista, com apoio de alguns setores populares organizados (policias militares, evangélicos pentecostais, empresas de segurança, milícias e setores atrasados do agronegócio).
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Tão pouco ele visa um retrocesso, uma volta ao passado. Nem mesmo uma volta à ditadura militar que, segundo ele, “não matou os 30.000” que mereceriam morrer. Ele quer iniciar uma marcha em direção a um futuro sombrio como nunca se viu no Brasil. Colocar as modernas tecnologias de informação e comunicação a serviço do obscurantismo cultural, da substituição da verdade pelas mentiras terraplanistas, da inversão dos valores democráticos por preconceitos simplificados e grotescos . Quer a exacerbação da força do Estado sobre os costumes e uma completa ausência do mesmo Estado na economia.
Tudo isso numa linguagem anti-sistema, “contra tudo que está ai”. Uma linguagem subversiva que encanta os jovens policiais civis e militares e os alunos das academias de artes marciais.
Querem algo mais “revolucionário” do que a última de suas frases sobre seu próprio destino, “a prisão, a morte ou a vitória”. Quase o “patria o muerte, venceremos”.
É da cartilha de Steve Bannon e dos ensinamentos de Olavo de Carvalho que Bolsonaro alimenta seu sonho fascista de uma CONTRARREVOLUÇÃO.
Um fascismo de novo tipo, sem nacionalismo econômico e cultural , substituídos por um falso patriotismo piegas e fanfarrão. Bolsonaro deseja uma contrarrevolução para uma revolução que na verdade não houve no sentido abrangente. Os avanços democráticos e civilizatórios que tivemos, principalmente a partir da Constituição de 88, é o que se constitui no alvo da contrarrevolução bolsonarista.
Mas a linguagem contrarrevolucionária inclui certos elementos da forma verdadeiramente revolucionária de agir. A agitação, a propaganda, a mobilização popular permanente (os comícios diários de Bolsonaro no cercadinho do Planalto) são utilizados, no entanto, para disseminar o liberticídio, em lugar da liberdade, as mentiras em lugar da verdade realmente revolucionária.
Bolsonaro se move em direção à barbárie e pretende consolidar os apoios que já tem, inibir dissidentes e ameaçar aliados. Esse é o sentido da manifestação de 7 de setembro.
O 7 de setembro será um movimento, um teste, um elemento de acumulação, que tem como públicos-alvo o Centrão, as Forças Armadas e os setores do grande capital.
Este movimento que poderá ser muito forte, não pode ser respondido pelas forças democráticas, e pela esquerda brasileira, apenas com pequenas manifestações no mesmo dia.
A resposta terá que se dar também nas ruas de forma modernamente revolucionária, propositiva e democrática. Uma enorme manifestação contra o genocídio da Covid-19, contra a destruição de nossas florestas e do nosso patrimônio natural, contra a quebra da economia, da volta da inflação e da carestia, contra a desestatização irresponsável, contra as milícias e a corrida armamentista interna, contra o ódio racista e homofóbico.
Um movimento de Não Violência Ativa, contra a violência dos fuzis bolsonaristas.
Talvez, no primeiro domingo da Primavera, dia 19, batizada como a Primavera da Democracia, Ditadura Nunca Mais.
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