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Artigo: O que ler para pensar a questão organizativa?

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(Imagem: Socialismo Criativo)

A Revolução Brasileira é a coluna quinzenal e exclusiva para o site Socialismo Criativo assinada por Jones Manoel. Historiador, professor, educador popular, youtuber e podcaster, o colunista aborda os caminhos revolucionários a partir do ponto de vista da juventude marxista brasileira.

Boa leitura!

O que ler para pensar a questão organizativa?

Nossas colunas têm sido dedicadas a pensar a questão organizativa com vistas a debater as condições para a Revolução Brasileira – isto é, a conquista do poder pelo povo trabalhador. Afirmamos várias vezes que o problema da organização política é marginalizado na produção marxista contemporânea (em especial no “marxismo” da academia) e até esboçamos uma tentativa rápida de explicação para esse fenômeno. Em outro momento, vamos buscar fazer um debate mais profundo sobre os motivos da pouca atenção dada a questão organizativa.


Nessa coluna, o objetivo é destacar a literatura disponível em português para pensar a organização política. Embora escassa, nos últimos anos o material sobre questão organizativa volta a aparecer com alguma expressão. Esse crescimento, ainda que tímido, é um reflexo do avanço do marxismo-leninismo no cenário brasileiro e da crise de hegemonia do petismo, com a derrota do golpe 2016 e com a prisão de Lula (e retirada da eleição de 2018), ambos sem nenhuma convulsão social nas ruas. Para muitos, ficou clara a diferença entre ter base social e base eleitoral, eleitores e militantes. Compreendendo essa diferença, começou a ganhar força a pergunta: como criar base social, força social organizada, militantes?


O nosso pequeno guia não pretende esgotar a temática e captar todas as publicações disponíveis no Brasil, mas indicar obras que consideramos as principais como introduções ao debate, como um guia de leitura para avançar a discussão sobre a questão organizativa, contribuindo na reorganização da classe trabalhadora para derrotar a ofensiva burguesa em curso. Como disse sabiamente Lênin, mais de 100 anos atrás, o proletariado organizado é tudo, desorganizado é nada.

  • O Centralismo Democrático de Lênin (LavraPalavra, 2021) – Esse livro é o mais importante publicado no Brasil sobre a questão organizativa nos últimos 20 anos – no mínimo. Gabriel Landi e Gabriel Lazarri traduziram e organizaram a coletânea mais ampla já disponível em português com as reflexões de Lênin sobre a questão organizativa. O centralismo democrático é muito falado e demonizado, mesmo sem o público ter acesso à maioria dos escritos do líder bolchevique sobre o tema. Basicamente, no Brasil, circulam várias edições do Que Fazer? e do Carta a um camarada. Embora fundamentais, esses escritos são apenas uma parte da reflexão de Lênin. Com esse livro em mãos, a militância brasileira pode entender em toda sua plenitude o debate leninista sobre a construção de uma organização revolucionária e, com esse entendimento, pensar concretamente como construir uma organização desse tipo no Brasil (ou melhorar as construções já em curso).


  • Que fazer? – Esse livro, como falamos acima, circula bastante no Brasil e é conhecido, corretamente, como uma síntese da compreensão do líder bolchevique sobre o que é uma organização revolucionária e a base para a construção do partido revolucionário que toma o poder em 1917. O livro, mesmo com esses atributos, deve ser lido com cuidado. Há elementos profundamente atuais nele, expressando muito das formulações leninistas, mas vários aspectos do debate de Lênin em Que fazer? foram mudados, reposicionados e revistos no decorrer dos anos. Recomendamos a leitura de O Centralismo Democrático de Lênin e depois do Que fazer? Assim, feita a leitura, a militância terá uma noção melhor das continuidades e mudanças na reflexão leninista e poderá captar como a forma organizativa muda acompanhando transformações na estratégia e na tática (sem, contudo, abandonar princípios de uma forma organizativa revolucionária). No Brasil temos várias edições do Que Fazer?. As mais recentes são da Expressão Popular, Martins Fontes e Boitempo Editorial. A da Boitempo é a que tem a melhor tradução e a edição mais cuidadosa. Contudo, a edição da Martins Fontes traz uma apresentação escrita pelo marxista argentino Atilio Borón que é fantástica e indispensável. Essa apresentação de Borón também está disponível na internet no site português Resistir.Info com o nome Actualidade do “Que fazer?” de Lenine.


  • Esquerdismo, doença infantil do comunismo – Esse talvez seja o livro de Lênin mais citado e menos lido. É comum evocar o título do livro para justificar todo tipo de aliança espúria, oportunismo e capitulação ideológica. Na realidade, essa obra é uma tentativa de passar em resumo histórico a prática política dos bolcheviques, desde sua constituição como fração política no Partido Operário Social-Democrata Russo até a tomada do poder em 1917. É uma obra em que Lênin debate tática, estratégia, palavras de ordem, questão organizativa, política sindical e eleitoral, alianças, compromissos e afins. A ideia é capturar a forma organizativa em movimento, no seu processo de concretização prático-efetiva. No Brasil, a edição mais recente do livro é da Expressão Popular. O livro tem uma boa tradução e edição.


  • O partido com paredes de vidro – é um livro do dirigente comunista português Álvaro Cunhal. O livro foi escrito nos anos de 1985 e é uma grande introdução ao que deve ser um partido leninista de massas e vibrante. Cunhal usa uma escrita didática, acessível e com caráter fundamentalmente descritiva. Ele procura abordar todos os aspectos da organização: comunicação, organização, direção, centralismo democrático, formação etc. O livro carece de aprofundamento em vários aspectos, mas é ótimo como uma introdução geral para pensar globalmente o funcionamento de uma organização revolucionária. Como material de iniciação, é perfeito. A edição mais recente no Brasil é da Expressão Popular.


  • CamaradaCamarada, da comunista estadunidense Jodi Dean, foi lançado esse ano pela Boitempo Editorial. O livro é parte de uma trilogia da autora para pensar questão organizativa e política revolucionária, cujos outros dois títulos são Multidões e Partido e O Horizonte Comunista. Camarada é um debate sobre o camarada como ser genérico de um ideal igualitário e de emancipação e que funciona como o ethos de uma organização revolucionária e comunista. Dean mobiliza uma série de conhecimentos, que vão desde a psicanálise à história, passando pela sociologia e teoria política, para mostrar a importância histórica do ideal de camarada e sua pertinência na contemporaneidade. O livro é fundamental para compreender que o centralismo democrático não é apenas um modelo formal de organização, mas comporta um ideal, um dever-ser, no seu funcionamento. Até esse momento, o livro de Jodi Dean é a melhor leitura do meu 2021.


  • Teoria da organização política – A coleção em quatro volumes lançada pela Expressão Popular foi organizada pelo estudioso da obra de Lênin Ademar Bogo. Bogo tem um amplíssimo e qualificado trabalho sobre questão organizativa e formação de quatros. A coleção que organizou abarca os principais nomes do marxismo brasileira e mundial (começando com Marx e Lênin, embora exclua Leon Trótski e Josef Stálin) e figuras pré-marxistas, como Maquiavel, Clausewitz, Sun Tzu. Dado o caráter de fragmentos e a amplitude de autores, não é bem uma coleção fácil e introdutória. O ideal é a leitura a ser feita com alguma bagagem e aproximação com o tema – até para compreender o quanto dos trechos selecionados pelo Bogo de figuras como Lênin, por exemplo, representam a totalidade de sua reflexão.


  • Mao Zedong e a Revolução Chinesa – métodos de direção e desafios da transição ao socialismo – Esse livro organizado por Miguel Enrique Stédile é uma coletânea com escritos de Mao Zedong debatendo a questão organizativa, antes da tomada do poder, e a construção do socialismo a partir do trabalho de massas. É a coletânea mais completa dos últimos anos com escritos de Mao refletindo sobre os desafios da conquista e manutenção do poder via questão organizativa. O livro contém escritos clássicos, como Contra o liberalismo e A propósito dos métodos de direção. É um livro útil para pensar vários temas, mas em particular o desafio de massificar uma organização revolucionária. A leitura é de fácil compreensão, didática e bem acessível. Pode servir tranquilamente como uma primeira leitura. A publicação é da Expressão Popular.


  • A política armada: fundamentos da guerra revolucionária A indicação final é o livro de Héctor Luis Saint-Pierre. O professor Héctor faz um debate sobre guerra revolucionária a partir de uma reflexão global sobre teoria militar e pensa todas os aspectos da política revolucionária – estratégia, tática, organização, moral etc. – pelo prisma político-militar. É o melhor livro com que já tive contato sobre a dimensão militar da política revolucionária. Embora não seja focado na questão organizativa, é um início para pensar o problema da organização pelo prisma militar. O livro é publicado pela editora Unesp e, embora não seja fácil de encontrar, a origem do livro é a tese de doutorado de Saint-Pierre (o que torna o material mais fácil de ser achado na internet).

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