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Encontro de líderes fortalece a esquerda na América Latina

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Foto: Reprodução

Milhares de pessoas ocuparam a praça de Maio, na sexta-feira (10), em frente à Casa Rosada, sede do governo argentino, para comemorar os 38 anos da retomada da democracia no país, após a ditadura civil-militar, além de celebrar o Dia Internacional dos Direitos Humanos. Lideres de esquerda como o ex-presidente Lula, o presidente da Argentina, Alberto Fernández, a vice-presidente, Cristina Kirchner, o ex-presidente do Uruguai José Pepe Mujica se reuniram neste evento e falaram em defesa da democracia. A ação é a representação do fortalecimento da esquerda na América Latina. Fernández, Mujica e Lula defenderam o regime democrático e afirmaram que ele ainda é o melhor, pois “permite a divergência e a diversidade”.

“A democracia é o melhor modo que temos para conviver. Supõe respeito, supõe gerar justiça e supõe dar igualdade. Uma democracia sem justiça e igualdade não é democracia.” Alberto Fernández

Para o ex-presidente do Uruguai Pepe Mujica, ainda não há um sistema melhor do que a democracia.

“Por enquanto, nós, humanos, não conseguimos inventar um sistema melhor que a democracia, que têm muitos defeitos, mas não são defeitos da democracia, são defeitos humanos.” Pepe Mujica

Posteriormente, o ex-presidente do Uruguai afirma que é preciso lutar para tornar a democracia melhor e mais justa.

“É preciso melhorá-la, lutando por melhorá-la. Tenho um sonho sem se realizar: o da igualdade. Somos iguais perante os direitos, mas não somos iguais nas oportunidades diante da vida. Esta é uma dívida”, disse Mujica.


Na mesma linha, o ex-presidente Lula afirma que a democracia é o melhor sistema político existente.


“Certamente, a democracia é o melhor e a mais importante forma de governo porque ela permite a pluralidade, ela permite a divergência, ela permite a diversidade. A elite política e econômica se apoderou da democracia, porque a Justiça pende mais para defender os ricos do que os pobres”, critica.


Para Lula, há um problema a ser resolvido na democracia, a sua equidade.

“Quando os trabalhadores fazem uma greve para reivindicar melhor salário, a polícia aparece para bater nos trabalhadores, mas a polícia nunca bateu nos empregadores. A democracia é um processo de aperfeiçoamento de um regime de convivência democrática da humanidade. Luiz Inácio Lula da Silva

Cristina Kirchner

Por sua vez, a vice-presidente argentina Afirmou que a praça onde se realizou o evento foi “cenário de grandes alegrias e também das tragédias argentinas”, em referência à ditadura e à luta das Mães da Praça de Maio.


Ela se referiu à história recente do país, que até 2019 foi governado pelo neoliberal Mauricio Macri, e comparou o período à ditadura militar. “Depois se fez a noite outra vez para a Argentina (com Macri). E a diferença de quando éramos mais jovens é que, antes, os governos nacionais populares eram desalojados por golpes militares. Desta vez, não vieram com uniformes e botas, vieram com as mídias hegemônicas para construir imagens”, disse.


Argentinos apoiam Lula

“Estou aqui por Lula. Ele é rei. Só Lula é capaz de acabar com as fronteiras na América Latina de novo”, disse Anselmo Garcia, boliviano de 60 anos, que vive em Buenos Aires há 40 e estava presente no ato com a bandeira de seu país de origem, gritando contra o FMI. A Argentina adquiriu sua maior dívida junto ao Fundo Monetário Internacional – cerca de 45 bilhões de dólares – durante o governo de Maurício Macri (2015-2019).


Já o aposentado Oscar Zurano, de 71 anos, um peronista convicto, disse acreditar que apenas com a esquerda unida a América Latina poderá ser uma grande potência. “A direita tem crescido e precisamos combatê-la, fortalecer e conversar com a juventude. Lula é uma grande referência e eu tenho certeza que sua presença é uma injeção de ânimo em todos nós argentinos”.


“Eu estou aqui pela democracia, por Lula e por toda a América Latina. Me preocupa ver tantos jovens se identificando com a direita. Minha presença no ato é também por isso, para mostrar que a juventude está com Lula, Alberto e Cristina”, destacou Evelin San Martin, de 22 anos. E acrescentou: “É o meu primeiro ato. Desculpa não poder dizer muito, é que estou muito emocionada e à flor da pele”, expressou a jovem, que segurava uma bandeira do Movimento LGBTQA+.


Segundo os organizadores, o evento contou com 250 mil pessoas na praça de Maio, entre crianças, famílias, jovens e também aposentados. Bandeiras do Brasil, de movimentos sociais, sindicatos e faixas que diziam “Fora Bolsonaro” e “Lula presidente” estavam presentes no ato.


A Festa pela Democracia, como o evento foi chamado pelo governo argentino, começou nas ruas por volta das 15h, com muito choripan (pão com linguiça, clássica comida de rua argentina), fernent (bebida local) e música. No palco, bandas locais e uma única banda brasileira, Francisco, El hombre.

Lula recebe prêmio

No mesmo dia, dentro da Casa Rosada, Lula recebeu o prêmio Azucena Villaflor, ao lado de Alberto Fernandez, de Cristina Kirchner, de Pepe Mujica e uma representante do Movimento das Avós da Praça de Maio, histórico movimento que luta por memória e justiça dos crimes da ditadura argentina.


O prêmio, instituído em 2003 pelo então presidente Néstor Kirchner, tem como o objetivo reconhecer cidadãos ou entidades de destaque por sua carreira cívica em defesa dos direitos humanos. A premiação leva o nome de uma das fundadoras do movimento das Mães da Praça de Maio e, também, uma das vítimas do terrorismo de Estado durante a ditadura na Argentina.

Lula no palco na Argentina

Lula, ao ser anunciado no palco, a multidão foi à loucura. Em bom portunhol, cantava: “Olê-Olê-Olê- Olá…Lu-la…Lula”, fazendo referência ao clássico cântico petista do final dos anos 1980. Discursando para uma multidão que o saudou aos gritos de “Vai voltar, vai voltar, Lula vai voltar”, o ex-presidente defendeu uma América do Sul unida e soberana, e agradeceu o apoio que recebeu do povo argentino quando esteve preso injustamente.


Lula, o segundo a discursar, falou por cerca de dez minutos, mas antes explicou que se expressaria “despacito” (devagar), num tom bem humorado, para que todos o pudessem entender. O petista ressaltou a necessidade de combater a pobreza, a desigualdade social e fazer a região voltar a crescer.


“Tive a felicidade de governar o Brasil no período que Néstor e Cristina governaram a Argentina. No período que o nosso índio, Evo Morales era presidente da Bolívia”. O ex-presidente brasileiro também fez referência aos governos de Rafael Correa, no Equador, Hugo Chávez, na Venezuela, de Michele Bachelet, no Chile, e do ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, que também esteve no palco com Lula durante a celebração.


No palco, o petista expressou sua afinidade com a esquerda latino-americana e com os presidentes que governaram os países da região no mesmo período que ele, chamando-os de “companheiros, progressistas, socialistas e humanistas”.


Em seguida, Lula agradeceu o apoio do presidente argentino Alberto Fernandez no período em que esteve preso. Com a voz embargada, mas firme, o petista se emocionou ao falar do companheiro argentino. “Quero agradecer ao meu amigo Fernández, que foi me visitar na cadeia quando ele ainda nem era presidente da Argentina. Quero agradecer o seu apoio incondicional. Eu nunca vou me esquecer desse gesto, meu amigo. Você pode contar comigo para o que você precisar”, disse, sob aplausos.

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