Enquanto o governo de Jair Bolsonaro (PL) se preocupa em facilitar o garimpo ilegal, iniciativas dos povos indígenas e da sociedade civil buscam minimizar os impactos da contaminação por mercúrio no País.
Em Santarém, no Pará, foi inaugurado em janeiro o primeiro centro de tratamento para esse tipo de contaminação no rio Tapajós, idealizado pelo médico neurologista, Erik Jennings.
Em pouco tempo de funcionamento, o Centro de Referência para as Patologias Decorrentes do Mercúrio (CREPAM) revela que as consequências dessa contaminação vão muito além dos impactos ambientais.
Em entrevista à InfoAmazônia, Jennings relata como o crescimento da atividade garimpeira e de outras atividades predatórias tem impacto elevado na saúde da população.
Há 20 anos, o neurologista trabalha na assistência à saúde dos povos indígenas no Pará, mas foi em novembro de 2021 que ele compreendeu que a situação demandaria ações mais contundentes.
Resultados de pesquisas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelaram que 60% dos moradores de três aldeias Munduruku apresentavam altos índices de mercúrio no organismo.
Foi quando surgiu a urgência por um atendimento especializado e a ideia da criação dos Centro de Referência, que é pioneiro no Brasil.
O atendimento é direcionado à pacientes da região da bacia do rio Tapajós, onde há um crescimento acelerado do garimpo.
“Amazônia, a Nova Minamata?”
Erik Jennings é um dos personagens do documentário “Amazônia, a Nova Minamata?”, do diretor Jorge Bodanzky, que teve sessão especial no Acampamento Terra Livre, em abril deste ano, e tem lançamento previsto para o segundo semestre de 2022.
O filme compara a situação vivida pelos Munduruku do médio e alto Tapajós com a contaminação por mercúrio de mais de 5 mil pessoas no município de Minamata, no Japão, entre 1932 e 1968.
Ele conta que o Centro de Referência surgiu em conjunto com os Munduruku ainda no ano passado e uma das soluções apresentadas foi criar imediatamente um espaço com exames mais apropriados para medir a repercussão clínica da substância no organismo.
De acordo com Jennings, a prioridade é a saúde indígena, mas no futuramente o CEPRAM possa atender a não-indígenas da cidade.
Assistência multidisciplinar
Para o neurologista, o primeiro passo é identificar os pacientes com risco elevado, mas que não apresentam sintomas clínicos. E buscar orientações dietéticas ou, mesmo uso de medicamentos.
Em pacientes com lesões já instaladas, com alterações neurológicas, por exemplo, é preciso garantir uma assistência multidisciplinar. Com exames, consultas, fisioterapia e terapia ocupacional.
De acordo com Jennings, os sintomas mais observados são alteração da atenção, queixas neurológicas como adormecimento nas mãos e nos pés e redução da capacidade de concentração.
Há ainda um alto número de crianças que nascem com problemas cerebrais. “Precisamos continuar estudando, e é difícil provar que pode ter outras causas. Porém, nessas regiões, o mais provável é que a causa seja mesmo a intoxicação mercurial”, disse. Para conferir a íntegra da entrevista acesse a InfoAmazônia.
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