
Não é de hoje que a ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro (PL), Ana Cristina Valle, tem seu nome envolvido no escândalo das “rachadinhas”. Uma matéria do Jornal Nacional, da TV Globo, exibida na terça-feira (7), apresentou novos indícios da participação de Ana Cristina em casos de lavagem de dinheiro no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).
Ana Cristina, que é investigada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) pela prática de “rachadinhas” quando atuava no gabinete do vereador na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, teria participado de um esquema operado pelo advogado Marcelo Morgado, que já foi alvo de investigação da Polícia Civil.
Segundo Marcelo Luis Nogueira dos Santos, que foi nomeado entre 2003 e 2007 no gabinete do então deputado Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e trabalhava como funcionário doméstico de Ana Cristina, a ex-mulher de Bolsonaro teria no esquema “uma forma de lavagem de dinheiro” dos recursos obtidos via rachadinhas, isto é, do recolhimento de salários de assessores lotados no gabinete de Carlos Bolsonaro.
Na investigação das “rachadinhas”, o MP-RJ identificou que Ana Cristina foi sócia de um escritório de advocacia, o Valle Ana Advogados, e de duas empresas de seguros na época em que era chefe de gabinete de Carlos.
Todas as firmas foram registradas em endereços próximos à Câmara Municipal. Segundo um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), mais da metade dos débitos na conta bancária de uma das seguradoras entre 2008 e 2015, totalizando R$ 1,1 milhão, se deu com saques em espécie.
No escritório de advocacia, Ana Cristina tinha como sócia Lidiane Castro Morgado, mulher de Marcelo Morgado, investigado por fraudes no DPVAT. Um inquérito da Polícia Civil apontou o endereço do escritório de advocacia de Ana Cristina como o local onde teria ocorrido a prática de estelionato contra uma das vítimas, que receberiam adiantamentos em espécie para arcar com valores de funerais de parentes. Depois, o advogado receberia procurações das vítimas para sacar o seguro e reteria parte deste valor.
Foram encontrados diversos processos nos quais ela trabalhou como advogada em indenizações de acidentes de trânsito. Entre 2007 e 2010 teriam sido 56 casos, segundo consulta feita ao site do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), sendo 54 relacionados ao seguro DPVAT. A maioria deles, no Rio Grande do Sul, apesar de o escritório dela ter sede no Rio.
“Ele (Marcelo Morgado) que acionava as famílias quando tinha acidente, oferecia todo o custo do funeral. Só que tudo era superfaturado. Ele tirava um percentual (do seguro), e esse percentual era revertido para a Valle Advogados, porque era quem dava esse dinheiro para poder oferecer à família todo o processo”, afirmou Marcelo Luis.
Segundo a reportagem, ao menos quatro pessoas ouvidas, que figuravam como clientes nesses processos, disseram não ter recebido valores do seguro DPVAT aos quais teriam direito em função das ações judiciais.
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