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Não vamos ocupar todos os espaços!


(Imagem: Socialismo Criativo)

A Revolução Brasileira é a coluna quinzenal e exclusiva para o site Socialismo Criativo assinada por Jones Manoel. Historiador, professor, educador popular, youtuber e podcaster, o colunista aborda os caminhos revolucionários a partir do ponto de vista da juventude marxista brasileira.


Boa leitura!

Não vamos ocupar todos os espaços!

Lancei tempos atrás um vídeo sobre representatividade e antirracismo de mercado. Basicamente, argumentei que no combate ao racismo, a representatividade só tem importância nos espaços de resistência e luta e que dentro da ordem dominante, no capitalismo-racista-colonial, a representatividade não combate o racismo; não só não combate como é uma arma para fortalecê-lo em algumas dimensões.

Até hoje sustento a mesma posição, e volta e meia recebo um interessante questionamento e crítica. Qual a crítica?


O racismo e seus determinantes, como o extermínio da população negra, tem como fundamento a desumanização do negro. O negro é um “Outro” não humano, um ser “matável”, um tipo de corpo que não produz empatia. Essa visão do negro é construída, dentre outros elementos, porque nós sempre estamos nas posições mais subalternizadas, baixas e degradadas da sociedade. Não somos médicos, advogados, arquitetos, juízes, promotores, governadores, engenheiros, professores universitários e afins. Estamos, no geral, limpando a merda dessas pessoas e lavando seus carros.


A partir dessa reflexão, muitas pessoas do movimento negro entendem que ocupar todos esses espaços, lutar a partir de políticas públicas para promover a ascensão social dos negros, pode combater o efeito de desumanização do racismo e nos tornar menos matáveis.


Só tem um grande problema nessa lógica. O pressuposto de que é possível no capitalismo dependente brasileiro – não moramos na Península Nórdica – um tipo de mobilidade social tão grande que inverta a configuração étnico-racial das classes sociais do Brasil. Ou seja, um tipo de mobilidade social que até hoje só um país da América Latina conheceu: Cuba depois da revolução socialista.


Muitas pessoas esquecem, mas a população negra tem classe no Brasil. Os negros e negras são em sua maioria da classe trabalhadora. No Brasil, não existe uma burguesia negra, e a porção negra das classes médias é bem pequena. Dizer que podemos ocupar “todos os espaços” como forma de combater o racismo é achar isso possível sem uma revolução, isto é, sem uma transformação radical da economia e do poder político, quebrar as barreiras de classe que impedem a mobilidade social e garantem que a maioria dos pobres nasçam, cresçam e morram pobres. É ignorar que no momento atual do país, o nosso nível de mobilidade social, sempre baixa, tende a ficar paralisado.


Não, não vamos ocupar todos os espaços com políticas públicas. Políticas como cotas raciais são importantes, mas não tocam na base do sistema. Basta dizer que durante os governos petistas, quando as políticas de “igualdade racial” tiveram o maior crescimento da história desse país, o número de negros e negras assassinados e encarcerados cresceu em ritmo assustador.


Políticas públicas de “igualdade” racial, na verdade, criam, no máximo, uma classe média negra maior. Seu maior efeito positivo é político e ideológico: colocar luz sobre o tema do racismo e da desigualdade étnico-racial. E no Brasil, o país do mito da democracia racial, isso é muito importante. Mas nenhuma ilusão pode ser tolerada.


Não precisamos imaginar que os monopólios de mídia vão ter uma posição popular se tiverem uma maioria de jornalistas negros e negras. Os monopólios de mídia precisam acabar. Não vamos esperar uma mudança do judiciário com maioria de negros e negras como operadores do direito. O que precisamos é acabar com essa forma-jurídica burguesa. E assim segue. Precisamos é todo o poder, criar o poder popular, e não achar que é possível mudar a cor do poder burguês.


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