Na China, determinado a buscar um terceiro mandato no poder, o presidente Xi Jinping, parece estar preocupado com o passado, não com o futuro.
Quando mais de 300 membros da elite política da China se reunirem em Pequim esta semana, sua principal tarefa será revisar um projeto de resolução sobre as “principais conquistas e experiências históricas” do Partido Comunista da China desde sua fundação, há 100 anos.
A agenda da reunião mais crucial do Comitê Central antes da remodelação da liderança – que ocorre duas vezes por década – no próximo outono é escolhida com cuidado e deliberadamente. Fala da importância que Xi atribui à história do partido e do seu lugar nele.
Durante séculos, as cortes imperiais chinesas nomearam historiadores para documentar a ascensão de um imperador, o que muitas vezes envolvia compilar – e reescrever – a história de seu predecessor. Para o Partido Comunista Chinês, a história pode ser extremamente útil.
As alegadas “reivindicações históricas” da China sobre territórios e águas em disputa, por exemplo, foram usadas por Pequim para apoiar sua defesa da soberania contemporânea, enquanto a narrativa anexa ao chamado “século de humilhação” por potências estrangeiras – desde da Primeiro Guerra do Ópio em 1839 até a fundação da República Popular da China (RPC) em 1949 – tornou-se uma fonte central de legitimidade para o partido.
Aos olhos dos líderes do partido, perder o controle sobre essas narrativas pode trazer consequências desastrosas.
O colapso da União Soviética – um conto de advertência severo citado várias vezes por Xi – é em parte atribuído ao “niilismo histórico”, ou a rejeição da elite governante da herança soviética.
Como resultado, o Partido Comunista Chinês guarda vigilantemente sua própria história – retocando os capítulos mais sombrios de seu passado tumultuado e apagando episódios particularmente sensíveis da memória pública.
Mas a próxima “resolução da história” não se trata apenas de remodelar o passado do partido. Mais importante, é uma forma de Xi codificar sua autoridade e supremacia no presente – e projetar seu poder e influência duradouros no futuro.
Desde a sua fundação, o partido emitiu apenas duas dessas resoluções, apresentadas pelos dois predecessores mais poderosos de Xi – Mao Zedong e Deng Xiaoping.
A resolução de Mao em 1945 o estabeleceu como a autoridade incontestável dentro do partido, após uma campanha de “retificação” de três anos que expurgou brutalmente seus oponentes políticos e ideológicos.
A resolução de Deng em 1981, entretanto, reconheceu os erros de Mao no lançamento da Revolução Cultural – uma campanha política que mergulhou o país em uma década de caos e tormento (embora concluísse que as contribuições de Mao para a revolução chinesa “superaram em muito” seus erros).
Mas, ao admitir e superar os erros do passado, Deng foi capaz de inaugurar uma nova era de reforma e abertura.
Ao emitir sua própria resolução, Xi se vê como responsável por assumir o manto dos legados marcantes de Mao e Deng, superando seus dois predecessores imediatos.
Nessa versão da história do partido, Mao levou a China a “se levantar” contra a intimidação de potências estrangeiras, Deng ajudou o povo chinês a “ficar rico” e Xi, agora, está liderando o país em um caminho triunfante para “se tornar forte”.
E para continuar a fazer isso, a lógica continua, ou seja, ele precisa permanecer no poder por pelo menos um terceiro mandato, para conduzir o país através do que ele chama de “janela de oportunidade” para a China alcançar – ou superar – o Ocidente em força nacional.
Por enquanto, poucos detalhes sobre a resolução são conhecidos – exceto a expectativa de que provavelmente será aprovada pelas elites do partido esta semana.
O título do documento indica um tom mais comemorativo e prospectivo do que as duas resoluções anteriores, que se concentraram em esclarecer os problemas ou erros do passado imediato.
Mas, independentemente dos detalhes mais delicados, o consenso entre os observadores políticos é que a resolução vai cimentar ainda mais a autoridade de Xi e colocá-lo firmemente no comando do partido em um futuro previsível.
Xi busca consolidar ainda mais seu status de líder imponente no mesmo nível de Mao e Deng. Ele já conseguiu estabelecer sua própria teoria política homônima e tê-la inscrita na Constituição do partido, um privilégio anteriormente reservado apenas a Mao e Deng.
Com informações da CNN Internacional
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