Por Ana Paula Siqueira, Socialismo Criativo
O Juizado Nacional Eleitoral (JNE) do Peru, proclamou, oficialmente, o esquerdista Pedro Castillo como novo presidente do país. Foram cinco semanas de análise de 270 pedidos de anulação de votos apresentados pela candidata da ultradireita Keiko Fujimori contra Castillo. Todos os pedidos foram rejeitados pela Corte.
A proclamação, realizada na noite desta segunda-feira (19), confirma aquilo que as urnas já haviam manifestado. Castillo venceu o segundo turno do pleito presidencial com 50,13% dos votos, contra 49,87% da filha do ex-ditador Alberto Fujimori. Uma diferença de um pouco mais de 44 mil votos. Em 8 de junho, Castillo se declarou vencedor do pleito com 99% de apuração das urnas.
Horas antes da proclamação de Castillo, Fujimori anunciou que reconhecia os resultados “porque é o que a lei e a Constituição determinam”.
Fujimori, que agora deve ir a julgamento por suposta lavagem de dinheiro no caso Odebrecht, apresentou inúmeras contestações de votos e recursos para adiar a proclamação do resultado, enquanto seus apoiadores exigiam nas ruas a anulação do voto e a convocação de novas eleições. Ela não conseguiu provar, em nenhum momento, as supostas fraudes que apontava no pleito.
Castillo tomará posse em 28 de julho, dia em que expira o mandato do presidente interino Francisco Sagasti e no qual o Peru comemora o bicentenário de sua independência.
É a primeira vez em décadas que a proclamação ocorre poucos dias antes da mudança de comando. Normalmente, o nome do novo presidente seria anunciado pelo JNE cerca de quatro semanas antes.
Castillo agradece por ‘triunfo histórico’
Pelo Twitter, o presidente eleito agradeceu o apoio popular e pediu unidade para o país.
“Obrigado povo peruano por este triunfo histórico. Chegou o momento de convocar todos os setores da sociedade para construir, unidos, um Peru inclusivo, um Peru justo, um Peru Livre, sem discriminação e pelos direitos de todos e todas”, disse.
Apuração
A apuração do 2º turno das eleições peruanas foi acirrada e o resultado das eleições só foi conhecido dias depois.
No dia da votação, 6 de junho, pesquisas boca de urna e até mesmo a contagem rápida feita por institutos de pesquisa indicavam um empate técnico entre os dois candidatos.
Acusações vazias
Em seu comunicado, Fujimori disse que para se defender “do comunismo” seus seguidores não deveriam cair “em nenhum tipo de violência”.
“Agora temos que enfrentar juntos uma nova etapa muito difícil porque o comunismo não chega ao poder para libertá-lo, por isso querem nos impor uma nova Constituição agora. Tenho absoluta certeza de que os peruanos não permitirão que Pedro Castillo transforme o Peru em Cuba ou na Venezuela “, disse Fujimori.
Marchas populares
Desde o dia 7 de junho, dezenas de milhares de peruanos de jurisdições rurais e comunidades indígenas que votaram em Castillo chegaram a Lima para monitorar a votação e realizaram dezenas de marchas pelo centro da capital, enquanto advogados de Fujimori alegavam fraude nas localidades onde o candidato de esquerda ganhou em massa.
Na última terça-feira, o plenário do Júri Eleitoral Nacional encerrou a resolução dos pedidos de apelação de Fujimori e negou todos, pois não encontraram indícios de falsificação de identidade ou falsificação de assinaturas de membros das assembleias de voto, como alegado pela candidata.
Nas seis semanas desde a votação, os aliados e seguidores de Fujimori fizeram protestos fora das casas dos magistrados do tribunal eleitoral e do Escritório Nacional de Processos Eleitorais para insistir em sua versão da fraude.
Reconhecimento da vitória de Castillo
Nesse período de espera pela proclamação oficial, os ex-candidatos à presidência Julio Guzmán, George Forsyth, Ciro Gálvez e Daniel Salaverry se reuniram com o professor rural em sinal de reconhecimento de sua vitória, após o escrutínio oficial. Sua aliada no segundo turno, a ex-candidata à presidência Verónika Mendoza, do esquerdista Nuevo Perú, é outra das personalidades que estiveram regularmente com Castillo durante as semanas de incerteza.
O economista Pedro Francke, da equipe do Nuevo Perú, parece ser o possível ministro da Economia do novo Governo, enquanto o médico Hernando Cevallos, ex-deputado da esquerda Frente Amplio, poderia ser nomeado ministro da Saúde. No entanto, nesta segunda-feira, Castillo tuitou que ainda daria detalhes sobre seu gabinete após a proclamação como presidente eleito.
Vandalismo ultradireitista
Desde junho, seguidores de Fujimori e um grupo de choque da Fuerza Popular praticam atos de vandalismo no centro de Lima, chegando à tentativa de tomar o Palácio do Governo na última quinta-feira e atacar os seguidores de Castillo que estão acampados em frente à Justiça Eleitoral.
O grupo denominado La Resistencia, que desde 2018 realiza escrachos contra jornalistas e magistrados que investigam o Fuerza Popular, participou na primeira fila das manifestações de Keiko Fujimori que insistiam na versão de “fraude”.
Com informações da Opera Mundi e El País
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